sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Um olhar crítico sobre a "novelinha" Malhação da Rede Globo. A série deixou de ser só para os ricos

Elenco vibra com as primeiras cenas da tramaA novelinha adolescente Malhação, da Rede Globo, completou neste ano de 2010 os seus 15 anos. Ao longo do tempo a trama passou por diversas transformações, a maior delas foi sair de um perfil jovem e assumir uma cara totalmente adolescente. A única coisa que não mudou no folhetim vespertino foi o perfil da história central, que mesmo com toda a variação de personagens e núcleos sempre esteve direcionado para o público jovem de classe média e classe média alta. Mas, parece que isto mudou. Malhação apareceu de cara nova, literalmente.  Com histórias do subúrbio, a inserção de uma trilha sonora mais popular e uma história que se aproxima da realidade de ricos e pobres a novelinha se reinventou e atinge seus 15 anos assimilando-se ao perfil da maioria dos brasileiros: a pobreza. O mocinho pega trem, o negro joga futebol e a galera ouve pagode. Agora sim: eu posso me ver na série teen da Globo.

Foto: DivulgaçãoA nova versão entrou no ar no último dia 23/8 e já é possível notar uma abordagem bem diferente das que vinham sendo feitas nos últimos anos. Mesmo sendo ambientado em um colégio particular, a série resolveu dar enfoque na nova classe média do Brasil, que tem acesso a bens de consumo como, computador e tênis de marca, mas ainda não pode ter uma educação de qualidade, além de ter que enfrentar dificuldades para vencer na vida. Na trama central a inversão: o mocinho agora é o pobre e a nova mocinha a rica da história. Mas no lugar da batida pop/rock entra o sambinha cadenciado, o reggae, o pop romântico e o sertanejo universitário. Com uma trilha sonora popular e a inclusão de mais pessoas da chamada "nova classe média brasileira" Malhação se reinventa e se aproxima da realidade da maioria dos jovens e adolescentes do Brasil. É como se a Malhação que eu sempre gostei de ver fosse definitivamente parecida comigo, com minhas lutas. 


Malhação ID, estrelada por Fiuk trouxe a abordagem mais teen da história da série e assim se afastou totalmente do mundo real e da temática da diferença social. Embora existissem ricos e pobres a trama era maquiada, convencendo os adolescentes de que eles deveriam, de fato, viver em seus "mundinhos" fúteis, sem se preocupar com o resto do mundo. O novo autor da série Emanuel Jacobina aborda uma linha totalmente diferente. Para ele o importante é retratar com verdade a realidade dos jovens do Brasil. "É muito importante para o programa retomar a credibilidade, no sentido de conseguir atingir novamente as expectativas do público. Retratar com realismo o que o jovem brasileiro vive. O investimento que a Rede Globo está fazendo esse ano, nessa temporada, me deixa muito tranquilo”, diz o autor em entrevista para o site do seriado.



Quando Jacobina diz credibilidade ele está falando de audiência e repercussão. As novas temporadas de malhação não acompanharam as mudanças sociais e políticas que ocorreram no Brasil e por isso perderam público e pontos no ibópe. Muita coisa mudou nesta nação e "nunca na história deste país" tantas pessoas saíram da pobreza e entraram na classe média. Tudo era abordado na trama, mas não o novo jovem que, desce do morro, não mais para a violênca, mas para ganhar a vida no asfalto. Para ser mais claro quero dizer que Malhação está ganhando a roupagem de filmes e séries consagradas no Brasil como, a série de sucesso "Cidade dos Homens", dos batalhadores Acerola e Laranjinha, e do filme "Era uma vez", com Thiago Martins, integrante do grupo "Nós do morro", onde na trama era abordado um amor proibido pelo contraste social do Rio de Janeiro. Na nova realidade dos jovens brasileiros está a convivência cada vez mais comum entre ricos e pobres, e nesta nova fase de malhação serão abordados os embates desta convivência.


A música sempre foi importante na novelinha, e é um dos fatores que revela mudança na abordagem do folhetim. Assim como o Funk carioca saiu dos morros para as boates de luxo no Rio, as músicas populares estão invadindo Malhação e dando à série ainda mais aproximação com a juventude brasileira, que está mais eclética do que nunca. O sertanejo universitário "Meteoro da paixão", de Luan Santana, a repaginada  "Lourinha bombril", do Bangalafumenga, são algumas das canções populates da nova trama, que, ainda, conta com o sambista Zeca Pagodinho em sua trilha. A trilha não agradou muito aos teens mais acostumados com grupos como, NX Zero, Fresno e outros coloridos do novo rock nacional.


Outra prova de que a trama mudou de foco foi a entrada do rapper e ativista social MV Bill no elenco. “Ele encarna um dos professores do colégio, e acho que seu papel tem uma certa responsabilidade, porque ele é um ícone marcante para a juventude atual”, comentou Jacobina no site de Malhção. O autor ainda promete, além de drama o lado cômico para retratar a nova temporada. “Essa nova temporada vai trazer mais intensidade nas relações. Histórias mais dramáticas e ao mesmo tempo mais engraçadas. Vamos mostrar esse tratamento mais realista de uma grande metrópole brasileira, com um elenco talentosíssimo e bonito”, disse Jacobina.




Malhação em 15 anos: 


A série teen começou a ser exibida em 1995 e até hoje já foram 18 temporadas. O folhetim já revelou, também, diversos artistas conhecidos e consagrados na telinha. Dentre estes André Masques, que viveu o inesquecível Mocotó da época em que Malhação realmente acontecia em uma academia de ginástica. Daquela época Cláudio Heinrich, Fernanda Rodrigues, Rodrigo Faro, Priscila Fantin e Mario Frias também se destacaram. O ambiente inicial da série era descontraído, rolava intrigas, fofocas e outros enfoques do público jovem, mas sempre com uma abordagem elitista. Naquela época não era qualquer um que frequentava as academias.

Antes mesmo de entrar no novo milênio Malhação viveu sua grande revolução, quando passou a ser ambientado no colégio de adolescentes Multipla Escolha, em 1999. Sempre em um ambiente das modernas escolas particuláres do Rio de Janeiro Malhação passou a retratar uma das fases mais difíceis de um jovem: o vestibular. A música "Assim caminha a humanidade", de Lulu Santos foi substituida por "Te levar", do Charlie Brown Jr, marcando de vez a mudança da série adolescente. A partir daí a novelinha não parou de revelar galães e artistas consagrados da TV. Henri Castelli, Juliana Silveira, Daniela Susick, Marjorie Estiano e o galan do momento Cauã Reymond foram alguns nomes. Quem não se lembra da "Vagabanda" ou do "Ogromóvel"?

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